Jorge Akira é o secretário de Trânsito e Transporte do município de Piracicaba. Com mais de 30 anos de vida pública, Akira concedeu uma entrevista exclusiva ao jornalista Rafael Fioravanti, do Jornal PIRANOT, onde fala do trânsito na cidade, de seu envolvimento no atual governo Barjas Negri, comenta detalhes de sua atuação frente à pasta, e, principalmente, das ações da Semuttran (Secretária Municipal de Trânsito e Transportes) em prol de Piracicaba.
Antes de tudo, gostaria que o senhor fizesse uma breve retrospectiva de sua carreira.
Estou há 37 anos na vida pública. Entrei na Prefeitura em 1982, trabalhando com topografia e, na época, tínhamos um Centro Municipal de Planejamento, que chamava-se Cemuplan. Posteriormente, o governo seguinte transformou esse centro na Secretária Municipal de Planejamento. Depois veio a Semuttran, que, recentemente, comemorou seus 25 anos de fundação. Ou seja, a Semuttran originou-se da Cemuplan. Era governo Mendes Thame e quem trabalhou bastante para que a Semuttran fosse fundada foi o próprio Barjas Negri — Barjas foi secretário de planejamento durante o governo Thame. Dentro da Cemuplan, tínhamos a parte de trânsito e projetos nas mãos da Secretaria de Planejamento; já a parte operacional e de finalização era ligada à antiga Secretaria de Serviços Públicos (também já extinta). Sempre estivemos ligados à área de trânsito e, nos últimos 14 anos, tivemos uma grande participação dentro da Prefeitura, elaborando projetos de sistemas viários. Daquela época para cá, fizemos cerca de 250 projetos, entre grandes e pequenas intervenções. Isso tudo ocorreu num período em que o Brasil vivia um bom período financeiro, então houve essa possibilidade. Se não fosse todas essas obras, Piracicaba hoje estaria travada. Temos problemas atualmente? Sim, temos, mas nada comparado aos problemas de cidades do mesmo porte. Piracicaba ainda é bem avaliada. Além disso, também sou vice-presidente do Fórum Paulista de Secretários de Trânsito e Transportes. Esse fórum se reúne de três a quatro vezes por ano para discutir políticas. Só sabemos o que ocorre em outros municípios por meio desses convívios, por isso consigo afirmar que Piracicaba está num bom patamar.
Qual é a maior dificuldade que a Semuttran enfrenta atualmente aqui em Piracicaba?
A maior dificuldade está relacionada com o transporte público. E isso não acontece só com Piracicaba, mas com todo o país. Tanto que esse Fórum Paulista que participo está finalizando, junto à Associação Nacional de Transporte Público (ANTP) e à Frente Nacional de Prefeitos, uma carta para ser enviada ao próximo presidente. Queremos que ele olhe com mais atenção o transporte público de todo o país. Hoje, estamos com problemas seríssimos. O custo é alto para as pessoas mais necessitadas e o Brasil precisa de uma política pública mais eficiente a nível nacional. Hoje tudo sobra só para os municípios. Quando o país vai bem, o município vai bem; agora quando o país vai mal, o município é o primeiro a sofrer, por conta dos recursos.
Então, o senhor analisa o trânsito aqui no município de uma maneira boa?
Nós temos problemas e trabalhamos nessas situações fazendo intervenções pontuais. Fizemos um convênio com o Governo do Estado de São Paulo, que nos liberou R$ 1,5 milhão em verbas. Estamos finalizando a implantação dessas pequenas intervenções. Temos o Fundo Municipal de Educação e Manutenção do Trânsito, que conta com recursos oriundos de multas no trânsito — então, hoje, também é permitido a utilização dessa verba para intervenções. Isso reduziu muito o número de acidentes e vítimas por toda a cidade. Hoje também participamos do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito, um belo trabalho feito pelo Governo do Estado de São Paulo. E temos também do Infosiga e o Infomapa. Piracicaba faz parte da lista de cidades que recebeu essa verba do Governo do Estado (verba oriunda de multas aplicadas pelo Detran) e, de todas essas cidades, Piracicaba é a segunda com o melhor resultado na diminuição de óbitos em trânsito. Isso sem falar das reformas e reconstruções que fazemos em terminais de ônibus. Hoje, temos seis terminais, dos quais três serão totalmente reconstruídos — inclusive um deles, o Vila Sônia, já está pronto. Temos o Terminal Pauliceia que já está demolido e em fase de reconstrução, e, no que concerne ao Terminal Piracicamirim, lançaremos em breve o Edital. Outra obra é a alça do viaduto, que sai anexo à Rosário. O objetivo dessa obra é eliminar a terceira fase do semáforo que une a Avenida Armando Salles de Oliveira, Rua Tiradentes e Torquato da Silva Leitão. Hoje temos um problema muito sério naquele local no pico da tarde e a Rua Tiradentes fica muito congestionada no sentido Vila Rezende. Mesmo numa fase de dificuldades financeiras, estamos constantemente melhorando. Mas também ainda há muita imprudência por parte dos motoristas…
Problemas que poderiam ser evitados…
Sim, por isso temos trabalhado muito forte em campanhas de conscientização. Mas não fazemos apenas campanhas grandes, realizamos um serviço permanente. Estamos sempre em escolas. Vale frisar que, recentemente, fizemos um convênio com a Polícia Militar e com a Guarda Civil com o objetivo de eles nos auxiliarem na fiscalização. Hoje temos poucos agentes de trânsito, é algo em torno de 15 agentes trabalhando em quatro turnos, então não dá para cobrir a cidade toda. E vale lembrar que grande parte dos nossos guardas já possuem cursos, por isso eles podem fiscalizar as vias, principalmente o pessoal do Pelotão Escolar e da Ambiental. Trabalhamos como o mundo inteiro trabalha, unindo sempre engenharia, campanha de conscientização e fiscalização. Esse é o tripé.
Uma das grandes reclamações que recebemos aqui no PIRANOT é o grande número de semáforos espalhados pela cidade. Há semáforos em quase todas as esquinas. Como vocês realizam o estudo para a implantação de um semáforo em determinado local?
Primeiro quero dizer que hoje Piracicaba tem uma central semafórica e grande parte das principais vias são sincronizadas dentro do que é possível. Temos vários semáforos aprovados pelo Ministério das Cidades, quando conseguimos o recurso do financiamento. Piracicaba tem o mesmo número de semáforos que uma cidade média de seu tamanho. A questão é que as pessoas estão acostumadas a trafegar numa via preferencial, e, com a implantação do semáforo, ocorre que ela certamente terá parar seu veículo em determinado momento. Isso é o que chamamos de democratizar espaço. Vários semáforos implantados atualmente são para veículos e pedestres, porém a maioria é para pedestres. Nós ainda somos uma cidade onde os motoristas não respeitam os pedestres. Vemos um respeito maior em cidades turísticas, como Curitiba, Brasília, etc. Em Brasília, por sinal, houve um trabalho muito forte a fim de penalizar imprudências. Para a implantação de um semáforo, verificamos a quantidade de veículos, de pedestres e a dificuldade de visibilidade.
Já foi comprovado que um semáforo inteligente melhora a fluidez do trânsito em até 30%. Há planos para trazer semáforos inteligentes para Piracicaba, com melhor sincronismo entre verde/amarelo e melhor ajuste de tempo?
Piracicaba é uma cidade antiga e em formato de colméia — com avenidas e cruzamentos. Um semáforo inteligente priorizará o maior fluxo, porém, suponhamos que a gente coloque um na Avenida Independência, temos que levar em conta que há vias transversais que também contam com grande volume de tráfego. Então, aí melhoramos um lado e travamos o outro. Mesmo São Paulo, que é capital, só possui semáforo inteligente em alguns locais. Trata-se de um sistema caríssimo. Se formos implantar na Avenida Independência, precisaríamos implantar também em todas as transversais. É um investimento alto e ainda se melhorar o trânsito em 10% é muito.
A Semuttran desenvolve algum grande trabalho atualmente aqui em Piracicaba? Se sim, qual?
Estamos na fase final de elaboração do plano de mobilidade, e, no início do ano, ele já deve ser revertido à Câmara. É importante dizer que Piracicaba está elaborando um plano de mobilidade juntamente com a alteração do Plano Diretor do município. Isso não é uma exigência da legislação federal, mas trata-se de um trabalho que dará mais resultado. O Plano Diretor prevê que se certa região tem um potencial de crescimento muito grande, então temos que dar uma atenção maior ao deslocamento de pessoas nesse local. É a questão da mobilidade. Esse trabalho está sendo feito junto com o Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba (Ipplap), e já está em fase final para ser protocolado na Câmara.
Se tivéssemos que mencionar uma pessoa que muito o influenciou, que muito moldou seu caráter e pensamento, quem seria essa pessoa?
São várias pessoas, estamos sempre amadurecendo e crescendo. Eu me acho uma pessoa comprometida e vou dizer que tenho vários amigos que me influenciaram, familiares também. Sou amigo de todos os ex-prefeitos que passaram por aqui. Sou piracicabano e, até pelo cargo que exerço, é fundamental conhecer bem a cidade. Tenho muito comprometimento e iniciativa.
O senhor comentou que é amigo de todos os prefeitos. A transição do governo Ferrato para o governo Barjas impactou a Semuttran de alguma forma?
Não. Fui secretário do Ferrato, agora sou também do Barjas. Nós tínhamos uma política já estabelecida dentro do governo do Gabriel e que está em continuidade dentro do governo Barjas. Temos um financiamento que se iniciou no governo anterior e que finalizará neste governo; temos a política da diminuição de acidentes, que também demos continuidade; e sempre seguimos orientações de nível nacional em muita coisa que envolve a secretaria. Legislação de esfera federal.
Quais comentários o senhor pode fazer em relação ao governo Barjas Negri atualmente? Avalia bem?
Sim. Dentro da situação econômica pela qual passa o país, Piracicaba ainda está sendo bem conduzida pelo prefeito Barjas. Tem dificuldades? Sim, é óbvio, mas Piracicaba se destaca a nível nacional em várias situações. Poderia estar melhor se o país estivesse numa situação melhor, mas, dentro do que é possível, a cidade está sendo bem conduzida.
O senhor pode falar que, atualmente, falta recursos para a pasta?
Sempre falta. Mas vejo que os recursos carimbados na Semuttran estão em ordem. Conseguimos dar continuidade à execução de pequenas obras e manter o funcionamento da Semuttran, mas o que falta mesmo é recurso para o caixa geral da Prefeitura por conta da diminuição do nível de investimentos que a Prefeitura fez, fazia e está fazendo. Então por conta desses repasses, há essa dificuldade no caixa geral. A Prefeitura sofre mais que a Semuttran, porque aqui ainda temos financiamento, convênio e recursos provenientes de multas.