Celso Lino de Oliveira, mais conhecido pelo apelido de Boiadeiro, é um velho policial civil de Piracicaba. Com 60 anos de idade e aposentado desde 2015, Celso Boiadeiro diz que ama o que faz e que não consegue ficar um único dia sem trabalhar. Com um jeito durão, porém simpático, Celso Boiadeiro concordou em dar uma entrevista ao jornalista Rafael Fioravanti, do Jornal PIRANOT, para contar um pouco mais de seu trabalho e de seu dia-a-dia na Polícia Civil. A entrevista na íntegra já pode ser conferida abaixo.
Gostaria de saber como o senhor começou na Polícia Civil?
Eu vim do interiorzão, de uma cidade na divisa de São Paulo com o Mato Grosso, e sempre tive o sonho de ser policial. Coloquei isso na cabeça desde cedo. Um dia prestei concurso para a Polícia Militar, fui aprovado, fiz a prova escrita em Adamantina e acabei indo para um batalhão em Presidente Prudente, onde fiz o exame físico. Naquela época, a gente ia a São Paulo para fazer a escolinha, e era ali onde a gente optava se queria ser Bombeiro, Rodoviário, Florestal, etc. Eu fiz a opção lá. Cheguei a Piracicaba em 1993. Trabalhei no Banco Mercantil por dez anos, mas como sempre quis ser policial, acabei largando o trabalho para entrar na polícia. Em 1994, prestei concurso aqui em Piracicaba e acabei passando. Assumi aqui no município em outubro daquele ano.
Como se dá o pontapé inicial em uma investigação da Polícia Civil?
Eu penso da seguinte maneira: para uma investigação ir para frente é preciso pegar o negócio firme e com vontade, como ganância de esclarecer a questão. Devemos sempre procurar agir de uma maneira clara e ir para cima do serviço, eu tenho isso comigo. Hoje a polícia dispõe de vários meios para pesquisa.
Piracicaba figura atualmente na lista dos municípios mais seguros com mais de 50 mil habitantes. Na lista de 138 municípios com mais de 50 mil habitantes, Piracicaba ocupa a 4ª posição. O senhor sente essa segurança nas ruas?
Hoje está claro para todo mundo que a polícia está ficando defasada. Isso é notório. Vocês podem ver que há delegados se aposentando, policiais se aposentando, e não está havendo concurso para repôr esses policiais que saem. Hoje faltam policiais e às vezes acabamos ficando sobrecarregados. Mas ainda assim há policiais com vontade e que gostam do serviço.
Então pode-se dizer que o maior problema que a polícia enfrenta atualmente é a falta de recursos humanos?
No meu ponto de vista sim, porque sobrecarrega. Escrivão hoje faz de tudo, toca inquérito e faz um monte de outras coisas, tem que se desmembrar. Nós, policiais, precisamos às vezes parar uma investigação para fazer intimação de coisas corriqueiras. Tem intimação que às vezes vai pela Guarda ou pelo Correios e que acaba retornando, aí temos que ir procurar a pessoa, sabe? Esse tipo de coisa atrapalha muito. Se tivessem mais pessoas poderíamos colocar pessoas certas para fazer seus respectivos serviços.
Como policial, qual é o maior problema que o senhor enxerga em Piracicaba atualmente?
Hoje é o tráfico de drogas. Quem for à delegacia e reparar um pouco nos plantões policiais, verá que o maior problema é o tráfico e que ele já está vindo dos adolescentes. Os “chefões” mesmo só conseguimos pegar por meio de escuta ou por meio de alguma informação forte que nos leve até ele, caso contrário é só a molecada que aparece mesmo.
De todas as ocorrências que o senhor participou, qual mais chamou a sua atenção?
A que mais me marcou foi uma que ocorreu em Santa Terezinha. Um casal brigou durante a noite e, no outro dia de manhã, fomos acionados ao local. Quando chegamos, encontramos o rapaz deitado no chão, bastante alcoolizado, e a mulher e mais duas crianças com a cabeça decepada ao lado. Essa foi a que mais me marcou.
Falando um pouco sobre maioridade penal, o senhor é contra ou a favor?
Isso já virou polêmica. Com toda sinceridade, eu acho que quem comete um crime tem que pagar. Seja lá quem for. Se for um adolescente, joga na Fundação Casa e se o adolescente se recuperar, beleza; senão deixe ele que fique por lá mesmo. Não adianta falarmos de crianças menores de idade. Essas crianças estão praticando crimes, praticam homicídio, roubos, furtos e tráfico de drogas. Então deve existir uma lei para eles também. Para ser bem sincero, eu não acredito em Conselho Tutelar. Não acredito, pois, atualmente, existe muitos problemas de família. As famílias não têm mais estrutura. Hoje o filho adolescente não pode mais trabalhar porque existem leis que o proíbem disso, então sou contra esse tipo de coisa. Eu trabalhei na roça. Existe um ditado que diz que cabeça vazia dá tontura, e é verdade. As pessoas devem estar sempre com a cabeça ocupada e se os pais tiverem condições de levar o filho para trabalhar, tem mais é que levar mesmo. Às vezes a mãe e o pai saem para trabalhar e se esquecem do filho. Mas o que esse filho fica fazendo? Que horas ele chega em casa? Com quem ele está andando? Na rua é só coisa ruim. Família é tudo e se a família acompanhar esse tipo de coisa, muita coisa já vai melhorar.
Qual é o maior conselho que o senhor pode passar a um jovem que sonha em seguir carreira na polícia?
A polícia precisa de pessoas que gostem de trabalhar nela. Tem muita gente que quer entrar na polícia só porque tem o sonho de andar armado, de andar com viatura. Não pode ser assim. Polícia tem que trabalhar. Para ser policial, tem que ter vontade de fazer alguma coisa em prol da população. Quando receber informação, tem que ir para cima, investigar e procurar saber o que está acontecendo. Isso que é importante.
E para finalizar, quais são suas considerações finais?
Eu tenho 60 anos de idade e minha aposentadoria já deu em 2015. Poderia ter parado, mas vou continuar trabalhando mais um pouco. Eu só espero que a nossa polícia não acabe, porque do jeito que está indo, todo mundo fala: “o último que sair vai apagar a luz”. A Polícia Civil não pode acabar, estamos falando de uma instituição respeitada e que deve ser respeitada. E, aos que vierem futuramente, só posso dizer que o trabalho deve ser bem feito, bem desempenhado. Eles devem mostrar à população que a polícia trabalha e que dá conta do recado.
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