O espetáculo Mentira, do Coletivo Bruto e Coletivo Estalo, que estreou em 2014 com uma longa temporada na Casa do Marquês, no Bairro Monte Alegre, volta a ser encenado. Serão três apresentações no Clube 13 de Maio em Piracicaba, nesta sexta-feira, sábado e domingo (dias 02, 03 e 04), sempre às 20h.
Depois de realizar 20 apresentações na Casa do Marquês o espetáculo volta agora para finalizar um ciclo, após ocupação artística do Coletivo Bruto no Clube 13 de Maio durante o ano de 2016 e temporada da peça Vergonha – segundo espetáculo da mesma trilogia.
Para as apresentações de Mentira, além da substituição da atriz Marina Henrique (atualmente residente em Florianópolis) pela diretora Maria Tendlau, o Coletivo Bruto investe no aprofundamento dos aspectos mais grotescos do enredo. “O diálogo com o segundo espetáculo da trilogia, e o momento que vivemos no país, nos inspirou uma liberdade maior em relação ao clima de terror psicológico e a crueza das relações estabelecidas entre os personagens” diz Paulo Barcellos, diretor de Vergonha e ator de Mentira.
Em cena, o encontro de três personagens, um latifundiário, sua mulher Larissa e uma antropóloga carioca da Funai (Fundação Nacional do Índio), revela um cem número de lugares comuns, preconceitos velados e falsas premissas que são empregados para desviar o foco dos verdadeiros protagonistas da trama: o índio, o movimento dos sem-terra, o agronegócio predatório, a floresta devastada, as relações de favorecimento como moeda corrente da economia das relações sócias brasileiras.
A atriz e diretora Maria Tendlau comenta que “não há concessões. O jogo é contar a história pelo olhar do dominador e manter as forças progressistas do lado de fora da cena, como fantasmagoria.” Por isso optamos por abolir o espaço de limite da cena, as paredes, para reforçar ainda mais a sensação de que algo está próximo, na penumbra, à espreita na floresta que resta – floresta sustentada apenas pela possibilidade de uma licença ambiental para adentrar no mercado internacional de carne –
para invadir a cena com arco-flecha, enxada e foice, tiros, mato bravo, mosquito ou onça. Deserto devastado, sem perspectivas, um não espaço. A perspectiva é a negociata.
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SINOPSE – Mentira acompanha a trajetória de uma antropóloga da Funai (Fundação Nacional do Índio) na busca de um índio isolado em Rondônia e a relação perigosa que ela estabelece com um casal de pecuaristas proprietários de uma grande fazenda na região. O texto é de autoria dos Coletivos Bruto e Estalo e faz referência, além das questões fundiárias da Amazônia legal, a uma filmografia de peso, produzida na década de 1960, que remete a Ingmar Bergman, Robert Altman e Heiner Maria Fassbinder.